Por Bruna Batista - 06 maio 2020 - 10 min
Entender o outro, ouvir, adaptar-se às situações, aprender a ser parte de um grupo, todas essas habilidades estão ligadas ao aprendizado socioemocional. Há algum tempo, a educação esteve focada apenas nos traços cognitivos do ensino, com fórmulas, conceitos e definições específicas. Entretanto, com a ajuda de pesquisas da Pedagogia e da Neurociência, atualmente compreende-se que os ensinos cognitivo e afetivo precisam caminhar juntos. Neste artigo, vamos falar sobre a abordagem das habilidades socioemocionais na escola, além de dicas de atividades e abordagens.
Confira!
A escola é um ambiente plural e diverso. Na convivência diária, essas diferenças às vezes podem falar mais alto e gerar atritos. A forma como lidamos com conflitos e adversidades, entretanto, está conectada com a nossa capacidade socioemocional de entender e expressar as emoções e os afetos. Portanto, as habilidades socioemocionais fazem parte não só das nossas relações interpessoais, mas também estão relacionadas ao autoconhecimento, à nossa relação com o trabalho e à nossa interação afetiva com o mundo.
Essas competências, primordiais para o desenvolvimento emocional de cada indivíduo, estão previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e fazem parte das aprendizagens essenciais, que atravessam todos os segmentos da Educação Básica. Na BNCC, quatro competências se destacam no que se refere ao ensino socioemocional:
Competência 6: valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
Competência 8: Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
Competência 9: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Competência 10: Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários
Fonte: Base Nacional Comum Curricular, p. 9-10. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>.
O corpo estudantil é formado por alunos de realidades distintas, com diferentes opiniões, princípios e valores, que ainda estão em um estágio inicial de seu processo de formação. Cada ser humano é único, por isso, dificilmente vamos sempre concordar e agir em consenso. A escola é uma das principais instituições responsáveis por auxiliar esses discentes em desenvolvimento, proporcionando um ambiente de acolhimento e aprendizado, onde os alunos se sintam confiantes para se expressar e dividir angústias e expectativas.
Pensando nisso, a abordagem adotada – seja pelos professores, coordenadores, diretores – é fundamental para garantir que os estudantes sintam essa confiança. Por isso, o primeiro passo para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos alunos, é compreender que os educadores precisam desenvolver as suas próprias habilidades. O docente, para atuar na facilitação do desenvolvimento socioemocional de seus alunos, precisa, ele próprio, passar por esse processo. O exemplo é uma forma de aprendizado importantíssima.
Algumas habilidades que os educadores podem fortalecer em si e auxiliar seus alunos nesse processo, são:
A empatia está relacionada à habilidade de tentar compreender emocionalmente como o outro se sente. Resumidamente, é se colocar no lugar da outra pessoa para perceber a condição em que ela se encontra. Esse pode ser um exercício fundamental para que educadores compreendam alguma angústia ou dificuldade enfrentada pelos alunos. Aprendendo com o exemplo dos professores, os alunos podem sentir maior empatia com relação aos seus colegas.
Em uma sala de aula, por mais que o professor esteja à frente para ensinar e se fazer entender, momentos para ouvir os alunos podem ser uma forma de aproximação. As crianças e os adolescentes também têm algo a dizer. Por vezes, os estudantes têm resistência a se manifestar ou até fazer perguntas referentes ao conteúdo, por medo da reação dos professores ou dos colegas. Incentivá-los a conversar pode ser bom, não apenas para entender suas opiniões e posições, mas também para encorajá-los a se expressar publicamente.
O educador precisa ter responsabilidade e compreender seus próprios sentimentos para que seja capaz de auxiliar os educandos. A sala de aula é um lugar de aprender, em que erros são bem-vindos e vistos como uma oportunidade para acertar no futuro. Por isso, é importante que seja estabelecido um ambiente em seja possível que os alunos conversem de forma livre sobre como se sentem. O exercício de uma habilidade socioemocional em determinada área – como compreender os sentimentos com relação aos estudos – facilita que essa mesma capacidade de autoconhecimento seja aplicada em outros momentos – como compreender os sentimentos com relação à família, aos amigos e à vida. É como um efeito dominó de desenvolvimento emocional.
Agora que já é possível entender o que são habilidades socioemocionais e demos alguns exemplos, trouxemos ideias de atividades para que essas habilidades sejam trabalhadas em sala de aula. Importante lembrar que as atividades devem estar alinhadas ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola.
O contato com a leitura propicia a ampliação do repertório linguístico, o desenvolvimento da capacidade de interpretação e a assimilação de diferentes registros de linguagem. A literatura possibilita o desenvolvimento da imaginação e da subjetividade. Além disso, ao ler, os estudantes estimulam o pensamento crítico, acessando perspectivas diferentes da sua realidade, em que, por meio delas, é possível compreender o outro.
As canções são uma forma lúdica de ensinar e funcionam muito bem ao conectar o aprendizado escrito aos sons e ao ritmo. Além disso, quando associadas a algum vídeo, esse potencial é ampliado. O uso de filmes e curtas também devem ser explorados como aliados no exercício da compaixão e empatia.
As músicas são muito usadas na Educação Infantil, é um recurso pedagógico que auxilia na construção do equilíbrio emocional e do bem-estar. Além disso, também atuam no desenvolvimento cognitivo, no estímulo de potencialidades dos circuitos cerebrais, na compreensão da linguagem e no desenvolvimento da comunicação.
As ferramentais audiovisuais tem em si a capacidade de despertar sentimentos e emoções ao ativar diferentes aspectos do sistema sensorial. Levar os alunos a repetir os gestos de determinada canção pode deixá-los mais felizes. Usar um filme que mostre determinada realidade, ainda que distante daquela vivida pelos alunos, pode despertar o sentimento de compaixão e empatia de forma mais aguçada.
Os jogos são um recurso importante no trabalho de habilidades socioemocionais, para todas as faixas etárias. Representam um momento de descontração em que, em geral, os mecanismos de defesa e barreiras emocionais são deixados de lado. O formato do jogo pode ser escolhido de acordo com a habilidade específica que se deseja trabalhar.
Fazendo uso de jogos, é possível observar o trabalho em equipe, atitudes de liderança, reações a situações de adversidade e como os alunos lidam com a contrariedade. Nesse momento, é possível experienciar situações do mundo real e compreender a sua percepção sobre esse momento.
Ao buscar estabelecer uma boa relação entre escola e família, coordenadores e professores podem oferecer um ambiente ainda mais acolhedor aos estudantes. Desse modo, ao perceber que é assistido e acompanhado, o aluno tem um sentimento maior de confiança em si e no ensino que recebe. Para os pais, poder acompanhar o desenvolvimento dos filhos de perto incentiva o interesse pelas atividades que serão desenvolvidas, além de aumentar a vontade de permanência na instituição.
O desenvolvimento de competências socioemocionais envolve um processo de aprendizado constante. Para os educadores, manter-se disposto a aprender é a melhor forma de continuar atualizado e preparado para questões que exigem habilidades socioemocionais. Dessa forma, serão capazes de auxiliar seus alunos nesse desenvolvimento.
A literatura pode ser usada como ferramenta pedagógica de diversas formas. Conheça nossos livros e selecione os melhores para sua escola!